Seguem duas pesquisas sobre o uso de dispositivos de comunicação (smartphones, computadores e tablets) e um artigo de Rosely Sayão. Eles nos fazem pensar sobre a necessidade de acompanhamento, sempre, sobre as oportunidades de se aprender os processos da vida adulta, por meio de experiências e vivências relacionadas ao cotidiano, e sobre a construção de uma relação próxima e de confiança, mas que respeita cada faixa etária e visa ao desenvolvimento da autonomia, responsabilidade, autopreservação e autorrespeito.
Ser uma pessoa autônoma pressupõe responder pelas escolhas e decisões, e isso requer discernimento, seriedade e liberdade.
Nos artigos sugeridos, são abordados, como tema, o controle e a vigilância do que os menores fazem com seus dispositivos e agendas, o estímulo ao diálogo e o desenvolvimento da responsabilidade.
Acreditamos que vigiar não é construir e não contribui para a formação de gente autônoma. A ação de vigiar, por ser uma atitude em que as ações são às escondidas, promove uma relação de desconfiança entre todos os envolvidos. Essas ações ferem os princípios de construção do diálogo e da autonomia. Acreditamos também que é fundamental que as crianças sejam envolvidas e, paulatinamente, responsáveis por tarefas e compromissos de suas vidas. São nestes momentos que terão a oportunidade de acertar ou errar e perceber pontos a serem melhorados.
Vale lembrar que a relação de diálogo, construção da independência e conquista da autonomia são aprendidos desde que somos bem pequenos e requerem muita dedicação, orientação, tempo para conversar e ouvir pontos de vista.
Rosely Sayão
Lição Incompleta
18/08/2015
Visitei uma amiga que estava com a neta de nove anos e que recebera da filha, mãe da menina, a incumbência de orientar a garota para que ela fizesse todas as tarefas e estudos escolares do dia seguinte durante o período em que ficaria na casa da avó. Solicitada a colaborar, sentei com a garota para ajudá-la a se organizar nos estudos.
Perguntei o que ela tinha de fazer, e a resposta foi: “Ah, não sei, está tudo na agenda. Pode ver lá”. Pedi para que ela fizesse isso e soube, então, que ela nunca via a agenda, porque era a mãe que olhava e dizia a ela o que fazer.
“Para que serve sua agenda escolar?”, perguntei. “Para minha mãe saber o que eu preciso fazer, para ela escrever e ler os recados da escola e para ela saber quando eu tenho provas. E para eu copiar o que a professora manda.”
Muitas escolas usam a agenda com a finalidade de informar os pais sobre o andamento da vida escolar do filho, para que eles se responsabilizem por ela. O problema é que os alunos, independentemente da idade, pouco se importam com a agenda, já que logo percebem que ela é um elo de comunicação entre a escola e a sua família.
O uso –ou o não uso– da agenda pelos estudantes é apenas um exemplo de como as escolas e as famílias não têm percebido a lição que têm deixado de ensinar aos mais novos, relacionada ao entendimento do que vem a ser um processo.
Pense em uma criança ou em um adolescente que você conheça, caro leitor, em uma situação bem corriqueira: tomar banho. Você acha que eles sabem que tomar banho é um processo que tem um começo, um meio e um fim? Não! A maioria pensa que tomar banho é o ato de tomar banho. O início e o final do processo ficam com a mãe, a empregada ou outra pessoa.
Quem tem filhos ouve com frequência a frase “Mãe, me traz a toalha?”, separa as roupas que o filho usará depois do banho, coloca a toalha para secar e as roupas sujas em seu devido lugar e…
Estamos criando uma geração que não se dá conta de que precisa assumir o processo como um todo, ou que toma a parte pelo todo. Volto ao exemplo da agenda, porque quase todos nós a usamos. De que adianta anotar os compromissos se não os verificamos depois? De nada, não é? Pois assim tem sido com os mais novos.
E esse estilo de tomar a parte pelo todo não está circunscrito às responsabilidades: está em tudo, inclusive no lazer e na diversão. Ir a uma festa de aniversário para eles significa apenas e exatamente ir à festa. Providenciar um presente –quando for o caso–, pagar por ele, pensar na roupa que irá ser usada, no meio de transporte, etc.? São tarefas da mãe, é claro! Mesmo aos 16, 17 anos…
Já ouvi muita reclamação de empresários, diretores e gerentes sobre como os funcionários mais jovens deixam de cumprir muitas de suas responsabilidades exatamente por isso: falta de clareza pessoal do processo ao qual seu trabalho está integrado. Em geral, eles cumprem o que acham que lhes cabe –o equivalente a tomar banho, ir à festa etc.– e dão sua tarefa por terminada.
Você percebe, leitor, a relação entre os exemplos citados e o comportamento no trabalho? Somos nós que temos ensinado isso a eles, desde muito cedo. Podemos e devemos ensiná-los de modo diferente.
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/2015/08/1670082-licao-incompleta.shtml
CEB – Centro Educacional Brandão
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